As paredes de pedras úmidas e ásperas seguiam meus dedos pequenos e medrosos. A ponta das unhas circundavam as pedras, arrastando-se pelo caminho que marcavam. Aquela era a única trilha que eu seguia, a trilha do meu toque, a trilha dos musgos.
Meus pés buscavam espaço pelo chão batido, mas temiam continuar a se mover no escuro que me envolvia. Meus olhos estavam abertos e eu buscava em vão qualquer sinal de luminosidade. Talvez minha visão cansada não soubesse mais a diferença entre luz e escuridão. Talvez eu nem mais soubesse se meus olhos realmente não estavam fechados.
Os sons baixos eram inquietantes, mas agora já tinham se tornado o meu silêncio e eu já não me incomodava como antes. Meus pensamentos pareciam comedidos enquanto vozes distantes cochichavam algo. Aquelas eram as minhas verdades. As verdades do silêncio. Mas eu não as escutava. Não buscava mais entende-las. Elas pareciam distantes, mesmo um dia já tendo perfurado meus tímpanos.
Eu me movia quase mecanicamente, seguindo a parede sem fim, sentindo o que sobrou do pó da terra sobre meus pés. Por momentos eu pensei em parar, sentar-me e desistir de continuar. Por momentos pensei que aquela era minha única realidade e sempre seria aquilo. Por momentos pensei que teria que germinar-me em terra batida e me alimentar com a água que descia pelos musgos da parede.
Mas meus dedos continuaram me guiando, mesmo quando meus pés falhavam e as vozes distantes pareciam agarrar meus membros e puxá-los para trás. E eu puxava o corpo com força para frente e me mantinha erguida. Seguia meu caminho, seguia meu ritmo.
O chão batido mudou aos poucos para uma terra fofa. Os dedos dos meus pés se embeberam com a terra, lavaram-se, combriram-se, anunciando que o final estava próximo. Muitos deveriam ter desistido antes dali, mas eu não, eu continuaria meu caminho.
Aos poucos um ponto tênue de claridade foi aparecendo na minha frente. Meus olhos demoraram a percebe-lo, mas logo fui eu que percebi que realmente eles estavam abertos. Meus pés quiseram correr e chegar logo, mas minhas mãos se mantiveram no mesmo ritmo, contendo meu ímpeto, ensinando que tudo chegaria ao seu tempo.
Quanto mais a luz se aproximava, mais meus olhos se acostumavam. Mesmo que minhas pupilas reclamassem um pouco, elas se sentiam contentes. O calor aos poucos tomou minha pele gélida. Meu rosto sentiu o frescor e meus lábios se contorceram no esquecido sorriso.
A terra fofa mudou novamente, adquirindo formas, adquirindo vida. Algumas ervas começavam a surgir e se transformavam em flores quanto mais se aproximavam da luz.
Eu estava ali. Aproximando-me do que tanto busquei. Chegando no fim de meu caminho, mas no início de uma nova história. Eu estava ali. A centímetros de minhas descobertas, a metros de quem um dia eu fui e das vozes que me circundavam. Eu estava ali. O pé direito erguido, os olhos semi cerrados se acostumando com a claridade, as mãos se apoiando pela última vez na pedra. Eu estava ali. Não mais. Eu estava.
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