Nostalgia




Nostalgia estava na pilha de livros que comprei entre 2016 e 2017 e não li na época. Era um livro que me chamou atenção pela capa, já que eu adoro essa pegada steampunk e queria muito ler sobre também. O livro se passa em um universo clockpunk, mas não exatamente. Vem ler a resenha que eu falo mais sobre o que achei da leitura ❤ 



Nostalgia - Nana Lees
Páginas: 408
Nota: 2,5

O que você faria se acordasse em um trem em movimento, completamente sem memória e sem documentos?
Esse é o dilema vivido pela personagem principal de Nostalgia. “Seguindo suas pernas”, acaba conhecendo Frank, um rapaz que tentará protegê-la a todo custo das terríveis verdades da vida que ela aparentemente é incapaz de compreender. Com ele, a garota descobre o mundo em suas alegrias e tristezas, mas sua teimosia infantil pode causar mais problemas para eles dois do que os jamais imaginados.
Por meio desta história, a autora mostra, através de metáforas, o que a falta de alicerce na infância pode fazer. Venha se aventurar no primeiro livro desta série de ficção voltada para o clockpunk.


O que faria se acordasse em um trem, indo para não se sabe onde e sem um pingo de memória?

Esta é a história de nossa protagonista. Desmemoriada, ela chega à uma cidade, mas não sabe por que está ali. Porém, seus pés a levam para uma casa vazia, com a qual ela possivelmente tem uma relação. Em sua primeira noite, é surpreendida pelo vizinho, Franklin, que invade sua casa e a trata como se fossem velhos conhecidos. Mesmo que ambos não soubessem se eram ou não. 

Em Nostalgia, nem tudo é o que parece ser. Narrado em primeira pessoa por uma personagem sem nome, e em terceira (flashbacks no fim de cada capítulo), mostrando o que acreditamos ser o passado daquelas personagens. Com uma pegada steampunk, mesmo que não muito bem ambientada, o livro nos apresenta um universo onde androides existem e são treinados como soldados. 

Quando comprei o livro, há muitos anos, estava muito animada para lê-lo, principalmente por gostar de steampunk e a capa me atrair bastante. Havia visto algumas resenhas também e tinha certeza que iria gostar. Infelizmente, me decepcionei um pouco com a leitura. 

O livro é dividido em dois momentos: antes e depois da protagonista entrar na escola. O primeiro mostra a amizade dela com o vizinho, como ela constrói sua própria existência a partir da dele, já que só conhece ele por ali. O segundo, a entrada dela na escola, ela fazendo amizades e descobrindo que nem tudo é tão óbvio quando se trata do povo daquele lugar. 

Achei o desenrolar da trama um pouco amador. Senti que algumas cenas foram colocados de forma quase aleatória, só para justificar certos acontecimentos, sendo que poderiam terem sido feitas de forma diferente e com maior propósito. Além disso, tudo parece se desenvolver como a mente infantil da personagem. Ou 8 ou 80, seguindo por caminhos confusos e que parecem não resultar em nada, pelo menos nesse primeiro volume. 

Não consegui gostar muito da personagem. Ela é carregada a história inteira, sem tomar decisões ou ao menos saber o que está fazendo. Quando se pensa que vai melhorar, lá está ela sendo carregada pelo desejo de outra pessoa. Além disso, tudo parece chegar de mão beijada para a garota, como se todo mundo tivesse a paciência de explicar o que está acontecendo ali antes que ela fizesse algum esforço para descobrir por si mesma. Senti que faltou um pouco de conflito nesse sentido. 

Mesmo que o universo tenha pegadas de clockpunk, passou muito longe na ambientação ou criação do universo. A história se desenvolve mais como um romance jovem adulto escolar. 

Eu esperava mais da leitura e não foi a melhor que fiz no ano. Não sei se o final prende tanto o leitor para um segundo volume, mesmo que a ideia seja interessante, não achei que foi bem executada.


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Lobo de Rua


Olá! Como estão? Hoje estou aqui para falar um pouco sobre o que achei de um livro nacional publicado pela Dame Blanche. Gosto muito dos textos publicados pela editora e sempre que vejo algum que não li fico me coçando para resolver esse problema 😅. Espero que gostem da resenha.


Lobo de Rua - Jana P. Bianchi
Editora: Dame Blanche
Páginas: 122
Nota: 3,5

Raul é um morador de rua, um homem invisível e desgraçado como tantos os outros. Como se sua desgraça não fosse suficiente, Raul contrai a maldição da licantropia, tornando-se um lamentável lobo de rua. Tito Agnelli não compartilha do abandono de Raul, mas conhece muito bem a sensação de ser rasgado por dentro, todos os meses, pela coisa vil que se abriga nele. Assim, compadecido com o sofrimento do recém-transformado, Tito acolhe Raul na Alcateia de São Paulo, extinta até então por falta de lobisomens residentes na Pauliceia. Depois de décadas de contaminação, Tito conhece cada detalhe da maldição que o transforma em lobisomem. Além disso, conhece também a Galeria Creta, um lugar em São Paulo onde ele e outros dos seus são bem vindos nas noites de lua.
Basta pagar o preço.


Raul sempre teve uma vida complicada. Em situação de rua desde muito novo, precisou crescer nesse ambiente inóspito, se acostumar em ser uma pessoa invisível e se esforçar para sobreviver. Quando as coisas já não estavam boas para o garoto, pioraram ao descobrir que, de alguma forma, ele foi infectado e agora se transforma em lobo na lua cheia. Uma transformação com purpurina e musiquinha de fundo como em desenhos animados? Claro que não. Se tornar um lobo vem junto com a dor e a destruição.

Tito também é um lobo, mas suas centenas de anos o tornaram bem mais acostumado às dores de sua transformação, além de possibilitarem bastante tempo para estudar tudo o que podia sobre lobisomens e ajudar novos lobos. Pelo cheiro, ele chega a Raul e o “adota” como membro de sua alcateia de dois, para ensiná-lo como proteger a ele e aos outros, e não sofrer tanto com as mudanças de seu corpo. 

O texto tem um pouco mais de 120 páginas, é uma leitura rápida que leva o leitor por uma São Paulo diferente quando vista pelos olhos de um lobo. Não, não de um lobo, de uma pessoa em situação de rua e marginalizada. A parte fantástica é bastante importante, mas, para mim, não foi isso que realmente me chamou a atenção no fim. A autora soube trabalhar muito bem os personagens, mostrando que ninguém é totalmente vilão ou mocinho. Eles são bastante verdadeiros e é fácil ter empatia pelos dois. Além disso, há a questão das ISTs, já que a que a doença que os transforma em lobos é transmitida pelo sexo. 

Foi uma leitura bastante interessante. Sofri com os personagens e imaginei como é estar na situação deles. Não apenas na parte de se transformar em lobo, mas também em ser um excluído da sociedade. Uma coisa que me incomodou um pouco foram as sentenças muito grandes e com linguagem bem específica, o que é ótimo para o texto e o estilo, mas para mim me deixavam um pouco perdida. Tirando isso, foi uma ótima leitura e o final me deixou querendo saber o que acontece com os outros personagens e se há continuação. 

Indico para quem curte fantasia urbana/ sci-fi e lobinhos. 

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As Meninas



As Meninas - Lygia Fagundes Telles
Editora: Círculo do Livro
Páginas: 247
Nota: 4

Não foram muitos os escritores que, no auge da ditadura militar no Brasil, abordaram em seus textos temas como a repressão e a tortura e escreveram obras de contestação como As meninas , de Lygia Fagundes Telles. Livro árduo, dolorido e lindo, As meninas relata os conflitos no relacionamento de três jovens que têm entre si um ponto em comum, a solidão, e como pano de fundo os governos militares. Três universitárias compartilham com algumas freiras um pensionato em São Paulo. Ana Clara gosta de um traficante e vive drogada. Lia briga contra o regime. Lorena, filhinha de papai, ajuda as outras duas com dinheiro. Lia se envolve com Miguel, que é preso e trocado por um diplomata. Sem ligar para a política ou as drogas, Lorena se apaixona por um médico casado e pai de cinco filhos. Um enorme espaço separa o universo das pensionistas e seus dramas das religiosas, que se apavoram com a liberdade das três moças. Cada uma das personagens é um poço de conflitos e monólogos interiores que vêm à tona através das confidências íntimas de cada uma e que se ligam à miséria política e cultural da época. O texto de Lygia Fagundes Telles não cai na vulgaridade, não se banaliza apesar do tema. A linguagem é coloquial e expressiva e os diálogos abandonam as conveniências formais. As meninas de Lygia são, afinal, as jovens do nosso tempo, saídas da adolescência e ingressando na plenitude da mocidade. Nada mais atual. Apontada pela crítica como um sucesso absoluto, As meninas é uma obra que resultou do esforço de três anos de trabalho dessa autora perseverante, que valoriza a palavra e mostra, através de seus textos, a luta de todos nós em defesa da liberdade.

Lorena, Ana Clara e Lia, três jovens universitárias que moram em um pensionato de freiras em São Paulo, durante a ditadura militar. Mesmo sendo amigas, as três possuem características muito distintas: Lorena vem de uma família rica, mas é deixada de lado pela mãe. Apaixonada por um homem mais velho e casado, ela vai levando sua vida de sonhos enquanto ajuda as amigas de forma financeira; Ana Clara é a mais bonita delas, noiva de um homem rico. Não teve uma vida fácil e é viciada em drogas, mesmo que as amigas tentem fazê-la se curar; Lia é filha de uma baiana com um ex-nazista. Trancou a universidade e agora participa de um grupo de esquerda contra o regime. 

O narrador oscila entre um em primeira pessoa, na voz das meninas, e um em terceira pessoa, que surge sorrateiramente pelos parágrafos. Para quem ler o livro desavisado, As Meninas pode parecer um pouco confuso. Cada narradora tem seu estilo e estas vozes se mesclam mesmo dentro de cada capítulo, precisando o leitor ficar atento para entender quem está falando o quê. 

À primeira vista, é uma história simples e cotidiana, mas foi escrita durante a ditadura e esta serve de pano de fundo para nossas personagens. Para algumas, a ditadura é mais real, para outras, é apenas um acontecimento longe de sua realidade. Cada uma das protagonistas foi construída de forma a mostra universos diferentes, mas ao mesmo tempo tão próximos. Não apenas entre elas, mas do próprio leitor. Elas sofrem, têm seus desejo e angústias. Cada uma enfrentando sua própria batalha, seguindo as subidas e descidas de suas vidas juvenis “normais”. 

A amizade das três também é algo que sobe e desce. É difícil acreditar que elas se gostem de verdade, mesmo que haja momentos que o leitor se pegue pensando que apenas uma amiga verdadeira agiria daquela forma. Muito eu senti que elas se relacionavam apenas por conveniência, por precisarem uma da outra de alguma forma, seja por dinheiro, seja para matar a solidão. 

Foi uma ótima leitura. A Lygia tem um estilo único de narrar suas histórias, suas personagens são bastante humanas, o leitor é levado a sentir junto com a confusão das três, junto com as emoções das três. O final é inquietante, mas como todo o restante da obra. Com certeza vale a leitura.

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