Os olhos verdes apáticos encaravam semiabertos o chão sujo. Um delírio viciante rodava seus miolos, buscando algum meio de escapar, mas era sempre engolido de volta, já que as mãos – habilidosas – sabiam bem a hora de levar a garrafa de álcool aos lábios secos.
Você não erguia o
olhar. Não notava nada ao seu redor. Ou fingia não notar, talvez
negligenciasse tudo por saber que não era capaz de fazer melhor.
O meu boletim estava
jogado de lado. Tudo o que eu me esforçara para tirar estava de
lado. Nada que eu fazia lhe importava, mesmo que eu desse meu
melhor a cada segundo para lhe deixar feliz. Nada.
Mas o que esperar? Seus
olhos nunca me olharam como deveriam. Seus braços nunca me
envolveram como deveriam. Sua boca nunca me beijou como deveria. Você
nunca foi a pessoa que deveria ser.
O ar fétido era inalado
e expirado vagarosamente pelas minhas narinas infantis. Meu coração
gritava, mas as lágrimas ficaram apenas em sua linha.
Você meio sentada, meio
jogada, fingia que não me via. Uma baba repulsiva descia pelo queixo
caído. Apenas demonstrando seu descaso. Ao seu redor, as sobras de
sua loucura escorriam pelas bocas úmidas de garrafas quebradas.
Os olhos mortos. O corpo
inerte. A mente vazia. O que esperar? Apenas catei minhas coisas.
Suspirei ruidosamente (e mesmo assim você não reagiu). Subi as
escadas barulhentas. Tranquei-me no quarto e, jogada na cama, fiquei
aspirando a poeira da falta de cuidado e estudando minhas únicas
amigas: as manchas de mofo nas paredes.
Gostei muito de ter estado aqui e da forma sutil que abordou o tema.
ResponderExcluirLevarei essa história , para uma das turmas que dou aula.
Abraço.