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Personagens - Lábios de Rubi


Olá!!! Como estão? Bem, vou confessar: eu simplesmente esqueci de fazer essa lista de avatares para Lábios de Rubi. Eu fiz para A Governanta, fiz para Dolls e me esqueci de Lábios de Rubi. (Obrigada à Jennifer por pedir e me lembrar). Mas, como diz meu lema, antes tarde do que nunca, não é mesmo? Espero que goste da seleção e, se não concordar com algum, sinta-se à vontade para me mostrar como imagina o personagem, irei adorar saber :)



Anna Popplewell como Jennyfer/Minerva 


Ian Harding como Willian


Ben Barnes como Perci (rei)


Seychelle Gabriel como Stephanie


Odette Annable como Raven


Amanda Seyfried como Margot 


Paul Rudd como Ralph


(Eu não sei o nome dele, mas a foto é de uma coleção da Toubab Paris - se alguém souber o nome comenta ai que eu atualizo) como Roland


Ufa! Acho que foi todo mundo. Diga-me, o que achou? Gostou da seleção? 

Não conhece a história ainda? Você pode lê-la aqui:


Beijos e até!
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Prólogo - JAT 1


Olá, pessoal! Como estão? 
Que tal conferir como está andando JAT? Aqui está o prologo para vocês já irem se familiarizando com meus amorezinhos ;) hehe
A capa ainda é um rascunho (pra uso não comercial e essas coisas todas). Espero que gostem!


A cidade um dia foi linda com as suas imensas casas de telhados coloridos preparadas para o inverno intenso. A época costumava ser feliz, com as festas que vinham com a estação mais fria do ano, mas nada alegraria aquela parte do reino, pelo menos não tão cedo. Os últimos dias foram uma imensa confusão e agora o lugar estava tomado pelas brasas dos últimos incêndios e os muros derrubados. 

Havia nevado mais cedo, mas o que restou dos flocos foram largas poças de água. Estava muito quente para ser inverno, as casas ainda emanavam aquele calor assustador que os moradores ali desejavam não ter conhecido. 

– Ninguém esperava um ataque assim. – Falou a única figura que se aventurava pelas ruas. O toque de recolher havia soado há pelo menos uma hora, e todas as outras pessoas já haviam se retirado para os abrigos, mas ela quis estar ali mesmo sabendo que não deveria. Era uma moça alta, de cabelo negro preso em uma farta e trabalhada trança e olhos azuis que brilhavam intensamente mesmo na semiobscuridade noturna. Trazia algo em seus braços: um amontoado de tecido que se movia de vez em quando. – Por sorte você está bem.

Caminhava rápido, como se tivesse medo de ser seguida – e bem que naquela situação aquilo era perfeitamente possível. Entrou por uma porta escondida entre duas casas e saiu em um pequeno pátio. As construções que envolviam o ambiente permaneciam de pé, fazendo daquele lugar um bom esconderijo. A mulher não parou até chegar à outra ponta e alcançar uma nova porta.

Daquela vez, ela hesitou. Sua mão já estava na maçaneta, mas ela não a girou. Essa é a coisa certa a se fazer? Desceu os olhos úmidos para o que carregava. É por pouco tempo, não é mesmo? Depois as coisas devem melhorar. Respirou fundo e passou pela passagem.

O outro lado não era o interior de uma casa como esperado. A porta dava para uma cidade. A noite daquele lado cheirava a torta de maçã e fim de dia frio. As ruas estavam tomadas por carros, mas não havia ninguém por perto que pudesse ser notado, porém ainda não era hora de dormir, já que as luzes brilhavam nas janelas das casas.

Ela repetiu o endereço mentalmente e estudou demoradamente o número das residências a sua frente. Como previsto, o portal havia levado-a exatamente para onde queria. Cruzou a rua com passos rápidos e logo alcançou a soleira do número 20. Bateu à porta e esperou com certa ansiedade até ela ser aberta.

– Boa noite?… – Um senhor apareceu entre escondido atrás da madeira. As palavras saíram em um alemão rouco e cansado, mas seus olhos esverdeados brilharam de excitação assim que entenderam o que estava acontecendo. – Majestade…

– Boa noite, Arnold. – Ela sorriu de lado, um sorriso tênue, não condizente com o estado de espírito da rainha.

– Entre, a senhora deve estar cansada. Vou pedir para prepararem algo para bebermos. – Arnold deu espaço e ela entrou se esgueirando pela parede do corredor. A casa estava muito clara e ela teve que se acostumar com tanta luz antes de finalmente dar mais algum passo. – Freya! Arrume alguma coisa para nossa convidada comer e beber. – Uma mulher ruiva, de pouco mais de vinte anos, colocou a cabeça para fora de uma porta no final do corredor e sorriu. Estava quase voltando para dentro quando ele a chamou novamente: – Verifique se as crianças já estão dormindo e leve a comida para o quartinho que eu tinha arrumado… Por favor.

A ruiva concordou alegremente, mesmo seu semblante também estando de cansaço.

– Não precisam se incomodar. – A visitante sussurrou. Suas bochechas coraram e suas sobrancelhas fizeram uma curva descontente e envergonhada. – Eu já estou de saída.

– Mas é claro que não. Vossa Majestade viajou até aqui, e eu não deixarei que parta sem ter descansado e se alimentado. – Arnold a guiou escada a cima. – Além do mais, a senhora tem que ver onde essa criaturinha linda irá morar. – Arnold desceu os olhos para o amontoado nos braços da rainha. A bebezinha agora dormia calmamente, como se não tivesse acabado de atravessar um portal entre mundos.

Subiram até o primeiro andar e ele a levou até um corredor sem porta. Arnold puxou uma cordinha no teto e desceu a escada que levava para o sótão. 

– Aqui é bem fresco e amplo. – Comentou assim que subiram. – Claro que não tem ares de quarto real, mas eu me esforcei para que a princesa goste.

A rainha examinou o lugar. Estava tudo impecável, com móveis recém-comprados em tons de azul, bege e branco; e quadros coloridos na parede. Era um quarto perfeito para a princesinha, e a mãe gostou desde o primeiro momento.

– Não precisava ter se incomodado.

– Tudo do melhor para minha princesa e filha de uma grande amiga.

– Mas você parece tão ocupado aqui, tomando conta do orfanato e de tantas crianças para ainda se preocupar tanto com…

– Jullie, nem ouse pensar nisso. Eu estou mais do que feliz de poder cuidar de sua filha. Claro que eu não desejaria que fosse nessas circunstâncias, mas já que foi assim, eu fico ainda mais feliz por você ter confiado em mim.

– Sempre confiei. – Jullie se aproximou devagar do berço azulado e deitou a criança carinhosamente. Uma lágrima tímida desceu pela bochecha, mas ela a secou rapidamente. 

Arnold fez um gesto para que a rainha se sentasse na poltrona perto da janela. Jullie se moveu hesitante até lá, como se se recusasse a se afastar da filha, mas querendo romper o mais rápido possível aquela ligação entre as duas. 

A porta foi aberta e Freya entrou com uma bandeja. Ela a colocou sobre a mesinha baixa entre os dois e se retirou, não antes de examinar a rainha por longos segundos e manter o sorriso delicado do primeiro momento.

– Você seguiu em frente? – Jullie observou a ruiva saindo. Sua face não reprovava, mas também não aprovava. Estava vazia. Séria.

– Como eu conseguiria seguir em frente? – Ele rodou os olhos até a janela. Sua expressão também se esvaziou, mas a rainha sabia que aquilo era tristeza e saudade. – Tudo o que eu tinha ficou em casa. Freya é uma ótima companhia e as crianças daqui também. Mas o vazio nunca será preenchido.

– Eu sinto muito.

– Não sinta, eu mereci.

– Não mereceu. O erro das pessoas é acreditar na separação entre bem e mal. Nada é tão certo assim. As pessoas não são divididas perfeitamente dentro dessa dicotomia. Não é como se um erro definisse tudo… – Ela deitou os olhos também na janela do sótão. Dali dava para ter uma linda vista de Berlim noturna.

Arnold percebeu que as palavras da rainha não se referiam apenas a ele.

– Você acha que a princesa estará segura aqui? – Ele mudou rapidamente de assunto.

– Eu espero que sim. – Os olhos azulados da rainha não se distanciaram da vista da janela. – Eu darei meu máximo para protegê-la também, mas acho que não será preciso tanta guarda.

– Samy é um mago habilidoso. – Ele comentou. – Mas, pelo que conheço dele, não acho que mexeria com uma criança de dois anos. Não é do feitio dele.

– Ele não. – Suas pálpebras se cerraram por um instante. – Mas já não tenho certeza sobre as pessoas que o seguem. Você sabe bem como são.

– Mas eles não sabem onde a princesa está, e também não é tão fácil viajar entre mundos. Então é quase que certeza que não podem fazer mal a ela aqui.

– Sim. E eu espero que a estadia dela seja por pouco tempo. Tenho que arrumar as coisas em casa e tentar salvar minha filha das ameaças dele. Bem… A morte de Miguel deixou tudo mais confuso e… É tudo tão recente. – Novas lágrimas desceram pelo rosto descorado e juvenil da rainha. – Eu quero que tudo esteja arrumado antes de Haley voltar.

– Eu te entendo. – Ele sorriu. – Vou cuidar dela como uma filha até tudo ficar seguro.

– Obrigada, Arnold. Agradeço todos os dias por ter um amigo como você.

– Não agradeça. Eu que serei sempre grato pelo que fez pelo… – Ele não conseguiu impedir algumas lágrimas de surgiram em seus olhos. Mesmo não deitando-as, elas o impediram de concluir a frase. – Co-como ele está?

– Ele está bem, um pouco assustado com tudo o que aconteceu, mas bem. Eu queria poder ter trazido ele também, mas você sabe como ele é.

– Ele ainda não me perdoou, não é mesmo?

Os lábios da rainha se apertaram e o homem já sabia a resposta. “Mas é melhor assim, pelo menos ele não deve estar sofrendo como eu.” Arnold sussurrou, mais para si mesmo do que para a rainha.

Jullie pegou o prato com um pedaço de torta que Freya trouxera e tentou comer. Não deu mais do que duas garfadas e o deixou novamente de lado. Há dias não comia, mas ainda estava sem apetite. Não deveria ficar tanto tempo sem comer, ela sabia, ainda mais na situação em que se encontrava. Além do mais, precisava de força para tudo o que sabia que viria. Mas não conseguiu pegar o garfo novamente, e a torta em sua boca desceu com gosto amargo.

– Acho melhor eu ir. – Ela se ergueu vagarosamente. Arnold finalmente notou a barriga saliente da moça e compreendeu porque se movia com tanta cautela.

– Será que vai ser um príncipe dessa vez? – Ele sorriu de lado.

– É uma menina. – Ela afagou delicadamente a barriga.

– Pena que Miguel não teve como conhecê-la.

– Uma pena. – Uma sombra turva passou pelos olhos da mulher, mas se dissipou tão breve quanto surgiu. Ela caminhou de volta até o berço da princesa e retirou o colar que antes trazia pendendo entre os seios. Deitou o pingente de joaninha sobre a mãozinha delicada da bebê. – Mamãe te ama, Haley. Arnold vai cuidar bem de você, tá? – Então, virou-se novamente para o senhor. – Por favor, não deixe que ela perca o colar. Ela vai precisar dele.

– Sim, majestade.

– Muito obrigada. – Jullie abraçou com força o amigo. – Espero revê-lo em breve. E que da próxima vez, você volte comigo para casa.

– Também espero.

Jullie secou uma última lágrima e se aproximou da porta. Respirou fundo, murmurou algumas palavras em uma língua antiga e a abriu. Do outro lado estava a cidade em chamas. Olhou para trás e sorriu para Arnold que acenava carinhosamente e para a criança no berço. “Um dia…” Pensou antes de atravessar o portal.



Então,  que acharam? Animados? Não deixem de comentar a opinião de vocês :3 hehe bjks
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A Governanta - Parte 0 - Capítulo 1


Olá, meus docinhos, como vocês estão? 

Quem acompanhou A Governanta sabe que eu tinha prometido postar o epílogo e que até hoje não postei. Eu poderia dar um zilhão de desculpas, mas a única que valeria seria: estou escrevendo o início, depois vou para o final. Sim, meus queridos, estou trabalhando na parte extra de A Governanta, que - em outras palavras - será a versão que publicarei (espero que em breve).

E sabe o que eu estou fazendo aqui? Vim disponibilizar para vocês o capítulo um da parte 0 (sou uma autora muito boa, não sou?). Essa versão ainda é um "esboço" e mudanças menores poderiam ser feitas, mas espero que gostem. Desculpa se passou algum erro, já corrigi algumas vezes e espero que esteja tudo nos conformes, mas alguns passam, não é mesmo? 

A parte 0 é o pré-Inglaterra, começando na infância de Sam, até o momento em que ela saí de casa. Estão animados para ler? Então vem comigo!

Obs: Contém drama (como sempre :3)

A França era um lugar lindo sob os raios do verão. O sol brilhava intensamente, as cores no quintal reluziam e os pássaros cantavam alegres e planavam baixo, passando a centímetros de minha janela. Estava uma tarde muito feliz, mas a natureza se mantinha alheia a todo o sofrimento que eu havia sido forçada a ocultar dentro do quarto.
Eu estava ajoelhada perto da janela, escondendo-me entre o parapeito e o cortinado. Dali dava para ver o cortejo que levava o caixão e era um bom esconderijo para que ninguém lá embaixo me visse. Mantinha-me em silêncio, deixando as lágrimas correrem timidamente pelo meu rosto e fingindo não notá-las. Naquele caixão estava a pessoa que eu mais amava em toda a minha vida.
Oh, mamãe! — Sussurrei entre soluços engolidos. — Eu sinto muito não estar aqui quando a senhora mais precisou de mim.
O cortejo era formado por papai, três empregados e Heloíse, minha governanta, que os acompanhava mais afastada, arrastando seu longo e pesado vestido negro sobre a grama verde-esmeralda. Rumavam para a Igreja não muito longe de minha casa, onde minha irmã havia sido enterrada e eu sabia que agora havia um profundo buraco esperando por mamãe.
Eu queria poder acompanhá-los, mas me trancaram no quarto antes mesmo do sol nascer e eu continuava lá dentro. Pelo menos, a minha janela era um bom observatório. Assisti enquanto eram levados para o sepultamento. Vi quando sumiram pela rua e quando voltaram mais tarde. Só então me retirei de meu esconderijo. Fechei as cortinas e me deitei na cama, escondendo a cabeça sob o travesseiro e não mais me importando com qualquer barulho que meu choro pudesse causar.
A dor que sentia não podia ser medida e eu não iria fingir que ela não existia ou me impedir de chorar. Fiquei entregue àquele estado até cair no sono. Sonhei com as lembranças do dia anterior, o pior dia de minha vida até aquele instante.


Don e Isabele Roche corriam na minha frente, gargalhando alto de minha pessoa que se esforçava para acompanhá-los. Era uma brincadeira de pegar e eu era a pior entre eles, mas não desistia tão facilmente e normalmente conseguia agarrar Isa quando ela se cansava. Foi o que aconteceu, ela ficou um pouco para trás e eu pulei em seu alcance, caindo nós duas no chão às gargalhadas. Don veio a nosso encontro e riu também.
Os dois eram irmãos e moravam duas ruas abaixo da minha. Isa era quatro anos mais velha do que Don e eu, mas sempre brincava com nós dois e nos tratava como seus animaizinhos de estimação. Era uma garota alta e que parecia mais velha do que seus dez anos. Seus longos cabelos negros estavam presos em uma trança que havia se bagunçado com toda a correria. Sua bochechas finas e delicadas estavam vermelhas de cansaço e seus olhos cor de mel faiscavam de animação.
Ah, eu não queria perder para a Samantha. — Ela fechou a cara em uma expressão engraçada e mimada. — Ela nunca consegue correr tanto quanto nós dois.
Mas eu consegui te pegar de novo. — Eu respondi ainda em cima dela. — Não sou tão ruim assim.
É sim, garotinha. — Don me puxou pela cintura, erguendo-me no ar e me colocando de lado.
Ele tinha a mesma idade que eu, mas, assim como sua irmã, parecia mais velho. Seu rosto não era tão delicado quanto o de Isa, pelo contrário, assemelhava-se bastante ao meu, que era redondo e sardento. Porém, os olhos dos dois eram idênticos e sempre possuíam uma animação que me contagiava em qualquer situação.
Querem brincar de mais o quê? — Isabele finalmente se ergueu e se colocou na nossa frente.
Eu preciso ir para casa. — Arrumei meu vestido que agora estava sujo e amarrotado, muito mais do que eu esperava que ficasse. — Mamãe já deve estar preocupada.
A nossa também. — Don revirou os olhos, mas ria como se não se importasse nenhum pouco. Eu não me divertiria pensando aquilo, já que tentava nunca preocupar minha mãe. — Então nos vemos em breve, Sam.
Abracei-os com força e corri de volta para casa. Já havia passado da hora de voltar e eu tinha certeza que Heloíse reclamaria da condição de minhas roupas e da hora. Então, me esforcei para correr o máximo que conseguia e encurtar o tempo que normalmente levaria das ruas até o pátio de casa.
Preferi entrar pelos fundos, passando pela porta da cozinha e assim evitando Heloíse, mas foi apenas a cozinheira Paulette abrir a porta, e eu correr até o vestíbulo, que ela apareceu e me agarrou pelo braço. Puxou-me em direção ao meu quarto sem falar nada, enquanto eu lutava para me desvencilhar de sua imensa mão e continuar meu caminho para o quarto de mamãe. Ela parecia estar com muita pressa e eu não me interessava nenhum pouco em saber seus motivos.
Mas então papai saiu de seu quarto e nós duas paramos no corredor, encarando-o estupefatas, como se não esperássemos encontrá-lo ali, mesmo aquela sendo a sua casa.
Papai! — Falei animada e puxei meu corpo para longe das mãos da governanta, que tinham se afrouxado um pouco ao ver o patrão. Eram raros os momentos que papai estava em casa e eu não iria perder a oportunidade de abraçá-lo. Agarrei-o pela cintura, mas ele logo me afastou com repulsa. Subi os olhos tristonhamente para sua face e notei que ele estivera chorando.
O que foi, papai? Aconteceu alguma coisa?
Heloíse. — Ele fez um gesto para que ela voltasse a me pegar. — Leve ela para o quarto.
Eu quero ver mamãe antes, papai.
Não vai ver sua mãe não! — Ele franziu a testa, e percebi que o que estava errado tinha alguma coisa a ver com minha mãe. Heloíse voltou a me segurar com ainda mais força, fincando suas longas unhas em minhas mangas.
Mamãe?! — Chamei alto, esperando que ela ouvisse de seu quarto que não era tão distante. Não veio resposta. — Mamãe?! Mamãe?!
Pare de gritar! — Meu pai me repreendeu. — Você quer ver sua mãe? Então vai lá vê-la. Só não me culpe pelo que encontrará.
A governanta me soltou e eu corri para a porta fechada do quarto de mamãe. Mesmo tendo sido avisada, eu nem ao menos hesitei. Para mim não se tratava de algo sério, apenas papai em um mal dia, então entrei de uma vez e me deparei com a cena que nunca minha cabecinha de seis anos apagaria de sua memória.
O quarto estava escuro e abafado. Mamãe estava deitada em sua cama, vestindo uma camisola branca e coberta com a manta até os seios, mesmo com o calor que estava ali dentro. Caminhei vagarosamente até o seu lado e coloquei a mão sobre suas mãos cruzadas sobre a barriga. Ela estava fria e, em minha cabeça, era por causa daquilo que as coisas deveriam estar quentes no quarto, para que ela pudesse se esquentar também.
Arrumei sua manta ainda mais alto e passei os dedos carinhosamente em sua testa, colocando de lado uma madeixa molhada que descia pela pele azulada.
Mamãe, tá na hora de acordar. — Beijei sua bochecha. Ela não se moveu. — Eu cheguei, mamãe. Vamos ler alguma história e brincar juntas.
Ela continuava estática, sem responder a nada. Balancei-a levemente pelo ombro e nem sinal dela despertar.
Papai e Heloíse estavam parados na porta, encarando-me sérios.
Papai. — Corri até ele. — Por que a mamãe não quer acordar?
Ele se manteve em silêncio. Eu tentava puxá-lo pela mão para próximo da cama, mas ele se recusava a se aproximar. Então, eu me virei para a outra pessoa, mesmo ela sendo a última que eu escolheria em qualquer situação. O desespero me fez recorrer a todas as ajudas.
Mademoiselle Tissot — Falei baixinho. — Por que a mamãe não quer acordar?
Ela não vai mais acordar. — Heloíse respondeu sem nenhum sentimento em sua voz, quase tão fria quanto a pele de mamãe. — Sua mãe está morta, Samantha. Ela não vai mais acordar.
Isso é mentira! — Gritei e corri de volta para junto da minha mãe. Abracei-me com força a seu corpo e sussurrei, temendo que se eu falasse mais alto, choraria: — Acorde, mamãe. Vamos… Está na hora de acordar.
Eu já disse que ela não vai acordar. — A governanta me puxou pelo ombro e eu me agarrei com mais força ao corpo. Agora não conseguia mais não chorar. Eu soluçava alto e sentia meu peito doendo.
Ela não estava morta, aquilo não podia ser verdade. Sua expressão era a mesma de sempre quando dormia, ela não estava morta, ela não podia me deixar daquele jeito. Eu não conseguia acreditar que ela tinha ido embora e me deixado ali.
A governanta me agarrou pela cintura e me carregou até meu quarto, mesmo eu esperneando e gritando que queria ficar com a minha mãe e que aquilo não era justo. Ela me colocou sentada no chão e trancou a porta antes que eu tivesse tempo de correr.
Vai ficar gritando igual a uma criança mimada, é? — Ela se colocou na minha frente, com as mãos na cintura e sua carranca de sempre. — Não adianta você chorar, ela não vai voltar por isso.
Por que isso aconteceu comigo, Mademoiselle Tissot? Isso não é justo!
Deus castiga aqueles que merecem. — Heloíse começou a me despir, retirando o vestido e me beliscando simultaneamente. — É você que lava seus vestidos, Samantha? Acha engraçado chegar todo dia imunda em casa? Sua mãe criou um animalzinho, isso sim. Uma criança sem modos, que não sabe se comportar nem obedecer e, ainda por cima, se acha no direito de questionar qualquer coisa. E por isso você está sendo castigada, porque você é uma péssima criança e que merece uma lição para crescer como uma mulher de sua classe.
Aquela não era a primeira vez que me dirigiram a expressão “mulher de sua classe”, mas foi a primeira que eu de fato me importei. A partir daquele momento descobri que odiaria ser a pessoa que esperariam que eu fosse.
Não… — As lágrimas falhavam minha voz. — Eu quero minha mãe de volta!
Você acha que Deus irá escutar uma garota horrível como você? Se Ele não trouxe de volta nem quem era bom para quem merecia, não trará para você. Agora, pare de chorar que isso está me atormentando e não vai melhorar o que está sentindo.
Eu não me calei e ela se estressou. Heloíse pegou a escova que descansava sobre a penteadeira e voltou até mim. Ergueu-me pela orelha e surrou incessantemente minhas costas e pernas. “Você não vai parar de chorar?” Ela gritava perto do meu rosto, sua voz estava mais alterada do que de costume. Quando sua raiva diminuiu e ela se satisfez, deixou-me largada no chão, chorando com ainda mais vontade, e foi arrumar meu banho. Eu já estava acostumada com os castigos impostos por ela, mas aquele foi mais doloroso do que todos os outros. Não foi a dor de ser surrada, foi a dor de ter perdido minha mãe e nem ao menos poder mostrar que estava triste por causa daquilo. Foi a dor de ser abandonada sem carinho e não ter nenhum ombro amigo para eu poder chorar. Foi a dor de saber que tudo dali para frente seria diferente.


Acordei com alguém afagando meu ombro. Era a empregada, uma moça baixa e de cabelos castanhos cuidadosamente presos em um coque. Chamava-se Amélia e seus olhos também estavam vermelhos de tanto chorar.
Mademoiselle Evans. — Ela falou carinhosamente quando despertei. — Seu pai quer que a senhorita jante com ele.
Não estou com fome. — Respondi secando os olhos. Minha barriga roncou, mas eu a ignorei. Estava fraca e sem animo para qualquer coisa.
Minha querida, — Amélia tentou sorrir, mas seu sorriso foi forçado e não conseguiu ser acolhedor. Percebi que dividíamos as mesmas dores e me senti menos solitária. — foi uma coisa horrível a morte de madame Evans, mas a senhorita não deve ficar sem comer. Tem que ficar forte e continuar sendo aquela menina alegre que dava vida a essa casa.
Eu não estou com fome, Li. Eu quero ficar só e chorar até poder me juntar a minha mãe.
Não diga isso, Mademoiselle! Uma coisa muito horrível para uma criança tão pequena desejar. Deve ficar forte e bem! A senhorita verá que tudo vai dar certo.
Minha mãe não está aqui. Não vai dar certo! — As lágrimas voltaram a escorrer. Ela me abraçou carinhosamente e beijou minha bochecha. Papai nem Heloíse gostavam quando os empregados “se misturavam com os senhores da casa”, mas mamãe sempre me ensinara a gostar de todos e considerá-los parte da família, então correspondi ao seu abraço.
A senhorita está queimando em febre. — Ela se afastou assustada. — Vou pedir para seu pai chamar o médico e vou subir com seu jantar.
Amélia saiu do quarto e eu voltei a me deitar. Estava cansada por causa da febre, mas não queria voltar a dormir e sonhar novamente com mamãe. Eu não queria acreditar que ela havia partido. Mesmo sabendo que eu teria que me convencer mais cedo ou mais tarde.
Fechei os olhos e cochilei por algum tempo, quando acordei, Heloíse estava parada junto a porta com a bandeja do jantar.
Uma criança tão mimada que fica doente por coisas desnecessárias. — Foi o que ela disse ao notar que eu estava acordada. — Não preocupe seu pai com seus problemas, ele já tem os dele.
O que houve com a mamãe? — Perguntei baixinho. Ela colocou a bandeja em meu colo e se sentou na minha frente.
Sua mãe foi encontrada morta enquanto tomava banho.
Eu quero ir ficar com ela.
Ela foi uma boa pessoa e está em um bom lugar. Se a senhorita morresse, não ficaria com ela, iria para um lugar ruim pagar pelos seus pecados.
Por que a senhorita não gosta de mim?
Eu gosto de você, Samantha. E por gostar que me preocupo e quero lhe educar da melhor forma possível para que seja uma dama quando crescer. Vou pedir para o médico vir amanhã e lhe ver. Agora, coma o seu jantar e não fale mais de sua mãe para o seu pai. Ele está sofrendo muito com isso e não vamos preocupá-lo mais.
Sim, Mademoiselle Tissot.
Ah! — Ela exclamou depois de se levantar e estar quase atravessando a porta. — Agora que a sua mãe não está mais aqui, a senhorita sabe que as coisas mudarão, não sabe? Então é bom passar a se comportar se não quiser ser castigada, e dessa vez não vai ter ninguém para me fazer ser mais tolerante com a senhorita.
Sim, Mademoiselle Tissot.
Ela sorriu de lado. Seus olhos verdes brilhavam, eu sentia aquela raiva com a qual estava tão acostumada. Eu sabia que as coisas seriam piores para mim dali em diante.

O médico veio na manhã seguinte. Eu tinha piorado e não conseguia nem ao menos levantar minha cabeça. Ele pediu para que eu descansasse e receitou alguns remédios – que Heloíse não me deu. Passei longos e entediantes dias sozinha no quarto, tendo todo tempo do mundo para pensar sobre o ocorrido e chorar o quanto eu quisesse. Amélia vinha sempre me trazer comida e me alimentava com carinho, como se quisesse mostrar que, pelo menos alguém naquela casa, se importava comigo. Ela às vezes lia alguma coisa ou me contava as histórias de sua família, mas nunca se demorava demais.
Procrastinei minha melhora ao máximo. Depois de alguns dias, eu já sabia que minha situação era causada pelo meu emocional e que, se eu me esforçasse, melhoraria mais rapidamente, mas eu queria continuar longe do mundo. Nem papai, nem Heloíse foram me ver naqueles dias e aquilo me motivava mais ainda a continuar deitada. Eu pensava que quanto mais eu ficasse de cama, mais demoraria para eu sofrer nas mãos de minha governanta.
Porém, era doloroso ter tempo para pensar em mamãe. Eu não queria ficar prostrada naquela cama para sempre, nem ao menos morrer, mas pensar que a minha vida continuaria sem ela era angustiante.
Mamãe e eu sempre fomos muito próximas. Eu fui a única filha de três que sobreviveu. Minha irmã mais velha morreu aos três anos de gripe, e meu irmãozinho, ainda na barriga. Por isso talvez minha mãe tivesse se apegado tanto a mim. Fazíamos quase tudo juntas. Ela fica a maior parte do tempo em casa, ensinando-me inglês, piano e a ler. E ficávamos contando histórias e criando nossos próprios contos.
Nós duas estávamos sempre juntas e nos amávamos muito. Papai raramente aparecia em casa e eu quase não o via, então me apeguei mais a mamãe. Heloíse também pouco ficava comigo, só nas horas de me arrumar ou quando mamãe precisava sair para ir a algum compromisso. Eu não conseguia imaginar como seria dali para frente sem ter ela para me proteger de Heloíse ou para me fazer rir nos dias de chuva e me fazer notar as coisas mais simples ao meu redor. Eram tantos momentos bons que eu nunca mais teria…
Mas uma coisa eu tinha certeza: ela não iria querer que eu ficasse triste ou sofresse por sua causa. Ela não iria querer que eu desistisse de minha felicidade.
Peguei um livro de capa azulada que estava dentro do criado-mudo e o observei demoradamente. Era o livro que mamãe costumava ler para mim antes de dormir. Estava todo na língua materna dela, o Inglês, e eu pouco conseguia ler sozinha, mas já tinha decorado algumas histórias de cor de tanto que tinha escutado. Abri no meu conto favorito e passei o indicador pelas letras marcadas no papel amarelo.
Mamãe… — Sussurrei para o livro como se ele fosse transmitir minhas palavras para o Céu onde minha mãe deveria estar. — Eu vou ficar bem, eu prometo. Prometo que vou tentar voltar a ser feliz, mesmo doendo muito ficar longe da senhora.
Guardei o livro de volta e tentei me levantar. Ainda estava fraca, mas agora queria abrir as cortinas e tentar ver a igreja onde estava o túmulo da família. Caminhei tropegamente até a janela e me sentei no parapeito. Sequei minhas lágrimas no momento que manifestaram descer e inspirei fundo.
Calcei meus sapatos e saí vagarosamente do quarto, rumando para a porta da cozinha. Eu iria ver o lugar onde mamãe estava e ficar com ela, nem que por ínfimos segundos. Não consegui andar muito, já que Heloíse apareceu no andar de baixo e me impediu de continuar.
Aonde acha que está indo?
Eu queria ir ver onde mamãe foi enterrada.
E quem disse que vou deixá-la sair? Você está doente e não vai ficar andando por ai para piorar.
Ah, por favor. — Agarrei-me a sua saia. Ela franziu o cenho. — Vai ser bem rapidinho, Mademoiselle Tissot. Eu só quero me despedir dela.
Não. A senhorita vai voltar agora para seu quarto e se preparar para o jantar. Seu pai irá jantar em casa e ele quer conversar com você. É bom se comportar e parar com essa besteira.
Não é besteira! — Respondi exasperada. O modo que Heloíse falava do meu sofrimento já estava começando a me estressar. Quem era ela para falar que a minha dor era besteira?
Vá agora para o seu quarto.
Não vou!
Está me desobedecendo? — Ela me pegou no colo e subiu comigo de volta, mas não fomos para meu quarto. Heloíse me levou até o escritório de papai. Ele estava em casa e aquilo foi mais surpreendente.
Papai era um senhor alto, de cabelos loiros iguais aos meus. Sua expressão era sempre séria, mesmo nos momentos felizes que tivemos juntos com mamãe. Não sei se ele sempre foi assim, mas era desde que me lembrava. Ele odiava quando eu andava pela casa, então eu conhecia muito pouco daquele imenso lugar. E aquele escritório se excetuava em minha lista.
O que ela faz aqui? — Ele ergueu os olhos castanhos para Heloíse. Ela me empurrou para a frente dele.
O senhor tem que dar uma lição em sua filha. Ela é uma criança insuportável que nem mais segue minhas ordens. Não sei mais o que fazer.
Ele desceu os olhos novamente para mim e me estudou demoradamente. Não havia nenhuma gota de afeto em sua expressão e aquilo me magoou profundamente. Eu sabia que ele nunca havia sequer me amado, mas nunca pensei que me odiasse o mesmo tanto que Heloíse.
Por que desobedeceu à sua governanta, Samantha? — Falou pausadamente.
Porque quero visitar a igreja onde mamãe está, papai. Eu não me despedi ainda.
Você está proibida de falar de sua mãe e de sair dessa casa. — Declarou. Eu senti minha face perder o sangue e meu queixo cair. As lágrimas surgiram em meus olhos, mas se mantiveram lá. — Heloíse me comunicou sobre seu comportamento e eu concordo com ela. Você tem muito o que melhorar e não irá ver o túmulo de sua mãe ou sair de casa enquanto eu não estiver satisfeito com os seus modos.
Por favor, papai. — Eu abaixei a cabeça e encarei o chão. Nunca consegui manter meu olhar fixo quando aqueles olhos sérios me encaravam. Era como se quisessem me humilhar mesmo sem falarem.
Castigue-a como quiser. — Ele disse para Heloíse. — Estou ocupado para me preocupar com isso agora.
Heloíse abriu um sorriso de lado e me puxou para fora do quarto.
Eu não tinha ninguém para me defender e nem ao menos conseguia fazer aquilo sozinha, então preferi aceitar o conselho de Heloíse e passei a seguir todas as suas ordens sem nem ao menos questionar. Eu não queria mais sofrer sem merecer, então preferi apenas obedecer e fingir que estava tudo bem. Mas dentro de mim eu sabia que nada estava, nem ficaria bem.

Sentada na penteadeira, encarando-me no espelho, eu sentia o frio do quarto envolvendo minha pele. O dia e a semana inteira tinham sido consumidos por um calor insuportável, mas, naquele momento, eu só conseguia sentir frio. Os olhos verdes da minha imagem no espelho perderam o brilho e a única luz notável era o reflexo da luminosidade do quarto em minhas lágrimas. Elas estavam quietas lá, prestes a escorrer pela pele esquálida, mas imutáveis em seus lugares de vigia.
Heloíse penteava meus cabelos com força, desmanchando os cachos dourados com a escova e movendo suas mãos com velocidade e destreza. Eu gostava quando penteavam meu cabelo, normalmente só mamãe fazia aquilo e, mesmo demorando uma eternidade por conta do tamanho e da quantidade de fios, era sempre um momento agradável. Mas naquele instante não poderia ser. Eu não conseguia apreciar nada que Heloíse fizesse, muito menos quando passava a escova com tanta força que parecia inclinada a arrancar-me tufos.
Seria melhor se você tivesse um cabelo mais curto. — Comentou ao término. Ergueu-se e eu finalmente pude ver seu rosto, que antes se escondia atrás de minha cabeça.
Obrigada por penteá-los para mim. — Agradeci apenas para não permanecer em silêncio. Não queria dar brechas para ela falar mais qualquer coisa.
Vamos descer para o jantar. — Ela me puxou da cadeira e me colocou a sua frente. Estudou-me de cima a baixo como costumava fazer quando me vestia. Eu odiava aquele tipo de roupa, muito tecido para pouca necessidade. Preferia os vestidos mais simples que usava no dia a dia, mas Heloísa nunca me permitiria descer para jantar com papai usando qualquer roupa mais confortável. Era roupa de camponesa, ela costumava dizer.
Descemos em silêncio até a sala de jantar e eu fui sentada em uma cadeira de costas para a porta. Heloíse se sentou ao meu lado e ficamos esperando papai descer, ainda em silêncio. Ele demorou como de costume. Eu já lutava contra minha barriga para que ela não fizesse nenhum ruído alto demais – para eu não ser castigada pela minha “falta de educação”, quando ele entrou apressado e se sentou na cadeira de frente para mim.
Boa noite, Papai. — Sussurrei.
Boa noite, monsieur Evans. — A governanta o cumprimentou com um sorriso largo.
Ele nos respondeu com um gesto de cabeça e pediu para as empregadas servirem o jantar. Papai conversava com a governanta enquanto eu comia em silêncio. Minha presença não importava para os dois e eu nem ao menos sabia o que estava fazendo ali.
Samantha. — Papai me chamou quando terminei e já estava me entediando encarando a decoração da sala.
Sim, papai?
Achei isso no meio de meus papéis. — Retirou um papel dobrado do bolso. Estendeu-o para mim e eu me levantei vagarosamente para pegá-lo. — Pensei que iria lhe interessar.
Era um desenho feito há anos. Eu e mamãe estávamos representadas ali. Eu me lembrava bem da data que papai havia desenhado-o, até do modo como parecia menos sério quando pediu para que nós nos sentássemos mais próximas uma da outra e não nos movêssemos. Mamãe era sempre sorridente nos raros momentos que ele ficava em casa e eu ficava feliz também. Mas então, esses momentos começaram a ser mais raros ainda e ele praticamente sumiu de minha vida.
Obrigada, papai. — Agradeci com lágrimas nos olhos, parte por causa do realismo da imagem de mamãe, parte pelas lembranças de nossa felicidade. — Vou guardá-lo com cuidado.
Espero que assim seja feito. — Ele esboçou um sorriso de lado. — Eu sei que o que aconteceu com a sua mãe foi algo muito triste e… Inesperado, mas peço que finja que não aconteceu. Não quero me chatear com isso, nem que você fique sofrendo demasiadamente. Temos que seguir a vida e tirar o melhor proveito do resto dela.
Sim… Senhor.
E me prometa que irá obedecer à Heloíse, sim? Não quero mais ouvir reclamações a seu respeito e nem me preocupar com seu comportamento.
Prometo, papai. — Ele passou a mão “carinhosamente” em minha cabeça.
Amanhã poderá ir ao quarto de sua mãe e pegar o que lhe interessar lá dentro. O resto será vendido. Agora suba para seu quarto, quero ficar um tempo a sós com Mademoiselle Tissot.
Sim, senhor, e obrigada. — Despedi-me com um aceno de cabeça e me retirei. Não fui para o quarto, caminhei um pouco no corredor e entrei na cozinha.
Os empregados jantavam perto da lareira. Amélia fez um gesto para que eu me aproximasse e senta-se ao seu lado. Guardei o desenho dentro do vestido e me sentei no banquinho baixo entre os empregados.
Paulette me serviu um pouco de doce, mas eu não comi. Encostei a cabeça no colo de Amélia e fiquei assistindo a conversa dos que estavam na mesa. Serge, o jardineiro, conversava sobre como as flores estavam bonitas naquela semana, enquanto Paulette comentava que deveria ser a alma de mamãe que agora cuidava de nossa residência.

Durma um pouco, querida. Você ainda está quente.” Amélia sussurrou em minha orelha. Eu não queria dormir, mas o calor da cozinha me deixou sonolenta, transformando a imagem de todos ali em um borrão até findarem-se na escuridão de meus sonhos.


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Beijocas e até mais.
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