As Meninas



As Meninas - Lygia Fagundes Telles
Editora: Círculo do Livro
Páginas: 247
Nota: 4

Não foram muitos os escritores que, no auge da ditadura militar no Brasil, abordaram em seus textos temas como a repressão e a tortura e escreveram obras de contestação como As meninas , de Lygia Fagundes Telles. Livro árduo, dolorido e lindo, As meninas relata os conflitos no relacionamento de três jovens que têm entre si um ponto em comum, a solidão, e como pano de fundo os governos militares. Três universitárias compartilham com algumas freiras um pensionato em São Paulo. Ana Clara gosta de um traficante e vive drogada. Lia briga contra o regime. Lorena, filhinha de papai, ajuda as outras duas com dinheiro. Lia se envolve com Miguel, que é preso e trocado por um diplomata. Sem ligar para a política ou as drogas, Lorena se apaixona por um médico casado e pai de cinco filhos. Um enorme espaço separa o universo das pensionistas e seus dramas das religiosas, que se apavoram com a liberdade das três moças. Cada uma das personagens é um poço de conflitos e monólogos interiores que vêm à tona através das confidências íntimas de cada uma e que se ligam à miséria política e cultural da época. O texto de Lygia Fagundes Telles não cai na vulgaridade, não se banaliza apesar do tema. A linguagem é coloquial e expressiva e os diálogos abandonam as conveniências formais. As meninas de Lygia são, afinal, as jovens do nosso tempo, saídas da adolescência e ingressando na plenitude da mocidade. Nada mais atual. Apontada pela crítica como um sucesso absoluto, As meninas é uma obra que resultou do esforço de três anos de trabalho dessa autora perseverante, que valoriza a palavra e mostra, através de seus textos, a luta de todos nós em defesa da liberdade.

Lorena, Ana Clara e Lia, três jovens universitárias que moram em um pensionato de freiras em São Paulo, durante a ditadura militar. Mesmo sendo amigas, as três possuem características muito distintas: Lorena vem de uma família rica, mas é deixada de lado pela mãe. Apaixonada por um homem mais velho e casado, ela vai levando sua vida de sonhos enquanto ajuda as amigas de forma financeira; Ana Clara é a mais bonita delas, noiva de um homem rico. Não teve uma vida fácil e é viciada em drogas, mesmo que as amigas tentem fazê-la se curar; Lia é filha de uma baiana com um ex-nazista. Trancou a universidade e agora participa de um grupo de esquerda contra o regime. 

O narrador oscila entre um em primeira pessoa, na voz das meninas, e um em terceira pessoa, que surge sorrateiramente pelos parágrafos. Para quem ler o livro desavisado, As Meninas pode parecer um pouco confuso. Cada narradora tem seu estilo e estas vozes se mesclam mesmo dentro de cada capítulo, precisando o leitor ficar atento para entender quem está falando o quê. 

À primeira vista, é uma história simples e cotidiana, mas foi escrita durante a ditadura e esta serve de pano de fundo para nossas personagens. Para algumas, a ditadura é mais real, para outras, é apenas um acontecimento longe de sua realidade. Cada uma das protagonistas foi construída de forma a mostra universos diferentes, mas ao mesmo tempo tão próximos. Não apenas entre elas, mas do próprio leitor. Elas sofrem, têm seus desejo e angústias. Cada uma enfrentando sua própria batalha, seguindo as subidas e descidas de suas vidas juvenis “normais”. 

A amizade das três também é algo que sobe e desce. É difícil acreditar que elas se gostem de verdade, mesmo que haja momentos que o leitor se pegue pensando que apenas uma amiga verdadeira agiria daquela forma. Muito eu senti que elas se relacionavam apenas por conveniência, por precisarem uma da outra de alguma forma, seja por dinheiro, seja para matar a solidão. 

Foi uma ótima leitura. A Lygia tem um estilo único de narrar suas histórias, suas personagens são bastante humanas, o leitor é levado a sentir junto com a confusão das três, junto com as emoções das três. O final é inquietante, mas como todo o restante da obra. Com certeza vale a leitura.

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