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O rapaz se sentou em uma das cadeiras do barbeiro, esperando para que o mesmo senhor de sempre, baixinho de cabelos grisalhos, fosse atendê-lo. A multidão ali dentro era formada por apenas seis pessoas: dois barbeiros e quatro clientes; o suficiente para deixar o pequeno quadradinho antigo cheio. 

– Vai querer o de sempre? – Indagou o senhor. O rapaz se limitou a concordar com a cabeça.

Os outros clientes discutiam sobre o cotidiano e o rapaz rapidamente se integrou à conversa. “Vocês viram aquela babá que seduziu o jogador?” Comentou um, segurando o jornal aberto em uma página sem importância. 

– Vagabunda. – Respondeu o outro. – Coitada da mulher dele.

– Viram que o país tá em crise? Que horrível! Eu disse que o povo não ia votar direito. Porque eu, eu vote no outro candidato. – Objetivou mais um.

Conversa foi e voltou, foi e voltou, até se tornar um contente falatório entre todos ali. Conversaram sobre o preço das moedas internacionais, do combustível, do docinho da loja da esquina. Conversaram sobre a época de seca, as crianças que saiam da escola, as mulheres que passavam na frente. Conversaram sobre suas famílias. 

– Minha esposa passa o dia inteiro fora e quando chega nem tem tempo mais para mim. – Disse um.

– A minha é desse jeito. – Respondeu outro.

– Pois vocês tem é que ficar de olho na mulher de vocês. – Aconselhou o terceiro.

– Já a minha é diferente. – O rapaz comentou, empertigando-se na cadeira e examinando o cabelo recém-cortado e a barba feita. – Ela fica em casa e sempre está lá para mim. Nós estamos até pensando em ter filhos, ela ainda está um pouco receosa, claro, mas acho que logo teremos um ou dois.

– Você tem sorte. – Respondeu o primeiro, voltando a caminhar os olhos pelo jornal. – Que tristeza, a moça sequestrada ainda não foi encontrada.

– Essa ai já tá morta. – Comentou outro.

– Com certeza. Faz o quê? Três semanas? Já bateu as botas essa ai.

– Posso ficar com esse jornal? – Pediu o rapaz. O homem não pensou duas vezes e o entregou. – Foi um prazer conversar com os senhores. – Despediu-se o rapaz. Pagou e se foi pela ruela.

Ia cantarolando uma música pop que havia se tornado tendência. Estava animado, mais animado ainda para chegar em casa depois de um dia de trabalho e descansar. Virou umas ruas, passou por inúmeras casas até parar à frente de uma empressada entre outras duas bem maiores.

Rodou a chave. Entrou sem se importar com o barulho que fazia. Jogou o casaco sobre o sofá e anunciou alto “querida, cheguei!”. 

Subiu para o primeiro andar e abriu a porta do quarto. Jogou o jornal sobre a cama e sorriu para a mulher sentada na cadeira longe da janela. 

Ela apenas subiu os olhos molhados. Seu rosto pálido refletia a pouca luz que escapava pelas cortinas. Tentava falar, mas sua boca estava amordaçada. Tentava se mover, mas seus pés e pulsos estavam presos fortemente à cadeira. 

No jornal em cima da cama, a foto alegre de uma jovem de 16 anos, sequestrada a três semanas.

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